31-08-13
É difícil descrever a alegria, o privilégio e a honra de compartilhar
certos momentos ao lado de seres tão interessantes.
Sei que muitos momentos similares e paralelos devem ter acontecido com
outras pessoas e me fica difícil encontrar uma razão plausível para o desejo de
tornar publicas certas histórias.
Não vislumbro de forma clara qual a utilidade deste relato para mim ou
para a humanidade, mas tal surge como uma “necessidade intrínseca” maior que a
racionalidade e sou impelido a vencer toda sorte de afazeres da vida cotidiana para
fazê-lo.
Decido não divulgar o nome dos personagens mais pela indelicadeza de
não recordar o nome real de todos os atores que pela discrição que seria esperada
ao colocar episódios da vida alheia em evidência.
O convite do meu irmão mais velho nos levou à casa de um amigo
peculiar, chegamos por volta das vinte horas. O número é 556, como atesta a
foto a seguir, e esta informação ainda que aparentemente irrelevante tem de
entrada para mim um significado singelo.
Foto do número da casa.
Somos recebidos com calor e brincadeiras usuais, o riso é uma matéria
que paira no ar. Sou apresentado como o tecladista oficial do “Morrison lá de Pinheiros”
(?), irmão mais novo do grande amigo, descendente de uma linhagem nobre porém
humilde.
Entramos na casa, cumprimentamos a esposa benfazeja, os gatos acostados,
cinzeiros de restos de tinta epóxi feitos em potes de margarina (“...esse azul aí
é da tinta do seu cartão de visita...”).
Ao passar para o quarto seguinte há uma coleção de violões e violas pendurados
(conto uns 7 no mínimo) e uma vasta coleção de discos. Eu pergunto ao anfitrião:
qual o disco daqui que você mais gosta? A resposta é uma descrição do
conhecimento musical gravado em vinil que lá se encontra (à final para que tanta
objetividade?)
O anfitrião conta foi que o Yamandu
Costa link passou a assinar os violões fabricados por um amigo seu que estava “...vivendo de bolacha de água e sal...”
após este ter praticamente obrigado este a mostrar o seu trabalho ao virtuoso
violonista. Deliciosos detalhes na eloquência do narrador, que infelizmente são
impossíveis de reproduzir na linguagem escrita ou falada.
Saímos novamente para a área externa e falando sobre as mazelas da
vida difícil dos músicos e em particular dos brasileiros meu irmão conta de quanto
estava na casa de uma namorada e escutou uma música vinda do vizinho. Foi e
tocou a campainha querendo saber o que passava e o cantor e compositor Mário Gil link atendeu a porta e disse que
estavam gravando um disco, ao entrar vê os músicos dentre eles Mônica Salmaso link.
Tratava-se da gravação em estúdio caseiro do disco Luz do Cais que tive o prazer de ver o
lançamento acompanhando meu irmão.
Essa história é compartilhada com a cantora de cabelo vermelho que
conta que por fim as entidades lhe disseram que estava pronta e que havia
ganhado um festival de samba. Sua humilde e “fiel escudeira”, sábia estudiosa
do conhecimento transcendental e “gateira” me diz “...ela canta Clara Nunes, você tinha que ver...” –
todos os pelos do corpo duros como setas de aço apontando para fora do meu
corpo...
Tudo isso com tipo um Emerson
Lake & Palmer tocando ao fundo, enquanto o filho do anfitrião que mora
em Salvador e está visitando o pai pilota a churrasqueira.
Chega “um mano” e a mulher em uma moto que considero ser uma Harley Davidson
(confirmei que sim mais tarde), acho que a moto “canta” Alceu Valença quando entra, não distingo bem. O ruído do motor é de
uma orquestra de britadeiras ferozes.
A moto tem um sistema peculiar e sem fio de reprodução sonora à partir
do celular do indivíduo... Daí pra frente a moto fica “cantando” AC/DC.
O personagem tem uma camiseta branca do Metallica, o que para mim é engraçado (não me venham com essa, eu
sei que sou dos poucos que vai em show de rock com camiseta branca!)
Eu saio do banheiro que tem na pia uma pedra que seguramente tem a sua
explicação etérea...
Quero fazer registro fotográfico da “sala dos violões e vinis” e lá
estão o anfitrião e um violeiro que compõe e toca com um pessoal ligado ao Almir (ele chama o Almir Sater assim...). O anfitrião explica: “...essa viola foi
feita na machadinha, o amigo estava sem ferramental adequado...” (ver fotos)
Fotos da sala de vinis e
violeiro.
Foto da pedra da pia.
Definitivamente parece que abriram algum portal e os magos da floresta
vieram para a cidade do caos... ou fui eu que atravessei o portal “arremessado
de fora pra dentro” de outro mundo...
Surge outro ser bizarro com um baixo acústico feito por ele mesmo que
faz um som incrível de Jazz Bass digo: ...caramba isto parece um baixo
elétrico! Após provar o instrumento com meus conhecimentos rudimentares eu e o
anfitrião notamos que este tem um recurso adicional: vem com porta copo
incluído...
Foto do anfitrião com o baixo acústico
que “fala muito” e tem porta copo incluído.
Começa o sarau ao vivo, músicas históricas. Eu escuto com o ouvido
direito a cantora do cabelo vermelho que mostra o seu poder enquanto a fiel
escudeira presenteia o meu ouvido esquerdo sentada ao meu lado (ela não admite,
mas canta maravilhosamente).
Meu irmão explica que seu anel Atlantis dá “um poder” diferente quando
usado em cada dedo, inclusive em um deles confere ao usuário “visão além do
alcance” – risos de Thunder Cats.
Tudo isso aconteceu em poucas horas na Lapa, em São Paulo. Vejo que
não é à toa que em qualquer lugar da cidade tem uma placa indicando para que
direção fica esse bairro...
Agora ficou claro eu queria que alguém visse. É por isso!